Computação quântica vira pauta corporativa

Computação quântica vira pauta corporativa


Até pouco tempo, a computação quântica habitou o imaginário científico como promessa futurista. Mas segundo Kirk Bresniker, arquiteto-chefe da HPE Labs, essa realidade começa a mudar. “Não é mais só sobre cubits isolados e microscópios. Agora, é sobre integrar, escalar e entregar valor empresarial com um sistema híbrido quântico-clássico”, afirmou durante painel no HPE Discover 2025*.

No evento, executivos da HPE apresentaram uma visão pragmática e colaborativa sobre o futuro da computação quântica. A empresa aposta em modelos híbridos com valor real para o mercado e pressiona o mercado pela preparação de infraestrutura e segurança já nesta década.

Segundo Bresniker, a conexão da HPE com a agenda quântica tem raízes antigas. Ainda em 2011, a companhia explorava cubits (menor unidade de informação na computação quântica, assim como os bits são na computação clássica) baseados em diamantes com vacância de nitrogênio. Mas, sem uma rota clara para valor empresarial, optou por focar em fotônica integrada.

Hoje, com o avanço da tecnologia e a integração de plataformas como Cray e SGI, comprada pela HPE em 2016 por cerca de US$ 275 milhões, com o objetivo de reforçar sua posição no mercado de HPC e análise de dados complexos, a companhia vê uma nova janela de oportunidade e um novo perfil de clientes cobrando o futuro.

Para responder ao mercado sobre o exascale do amanhã, a HPE estruturou seu plano quântico em quatro pilares:

  1. Ambiente de trabalho unificado: criar uma plataforma que abstraia a complexidade de programar para CPUs, GPUs, FPGAs e QPUs (processadores quânticos), sem exigir PhDs em física quântica. A ideia é preparar a geração atual de cientistas e engenheiros, enquanto os “nativos quânticos” ainda estão no ensino fundamental.
  2. Simulação quântica distribuída: usar o que há de mais avançado na computação de alto desempenho para simular, testar e calibrar sistemas híbridos, ajudando a determinar qual parte do problema deve ser resolvida por cubits e qual pode ser tratada classicamente.
  3. Aceleradores inspirados em quântica: mesmo sem recorrer a cubits reais, a HPE estuda como circuitos fotônicos usados em comunicações podem ser aplicados a computação com ganhos inspirados na física quântica, um “atalho” para problemas como roteamento, otimização e logística.
  4. IA generativa baseada em física: aplicar modelos generativos para resolver problemas, combinando heurísticas clássicas e quânticas para acelerar descobertas científicas, simulações moleculares e planejamento logístico.

“Nós não nos importamos se a resposta vem de cubits supercondutores, íons aprisionados ou lasers ressonantes. O que queremos é gerar resultados práticos para a ciência e os negócios”, disse Bresniker.

Computação quântica e o momento GPU

Gerard Kleyn, VP de Desenvolvimento de Negócios de HPC e IA da HPE, comparou a computação quântica com a chegada das GPUs há 15 anos. “No começo, havia poucos casos de uso. Mas hoje são centrais em IA. A computação quântica está no mesmo estágio inicial”, explicou.

Segundo ele, a HPE já vê uma demanda crescente por infraestrutura híbrida, em que companhias precisam simular em ambiente clássico antes de rodar o experimento quântico. “Estamos vendo instituições usando sistemas quânticos para geração de números aleatórios, pesquisas de materiais, saúde e outros casos científicos.”

E a empresa já está no mercado. “Há licitações abertas para esses sistemas. Nós avaliamos, com base na missão do cliente, quais fornecedores parceiros de quântica melhor se encaixam, como a finlandesa IQM”, disse Kleyn, reforçando o modelo colaborativo da empresa.

Ameaça invisível

Scott Shaffer, VP e Chief Technologist de Compute da HPE, lembra, contudo, a computação quântica tem um lado sombrio, que é seu potencial de quebrar a criptografia RSA usada há mais de três décadas. “Shor’s Algorithm permite isso em tempo polinomial. Isso assusta, porque há uma corrida invisível acontecendo e pode haver estados-nação já coletando dados hoje para decifrá-los amanhã”, alertou.

Em resposta, a HPE implementou criptografia pós-quântica (PQC) em sua nova geração de chips, começando pelo nível mais baixo de firmware (com algoritmo LMS embutido no iLO Gen12). “Vendemos servidores hoje que operarão em 2029. Eles precisam estar protegidos desde já.”

Além disso, com pressão regulatória nos EUA e Europa, a PQC se tornará obrigatória até o fim da década. “Isso afeta tudo, de seguros, bancos a redes críticas. É caro, mas inevitável”, completou Shaffer.

Futuro híbrido

Questionado sobre a posição da HPE no “ponto de inflexão” quântico, Bresniker revelou o protagonismo da fabricante. “Não estamos mais assistindo da arquibancada. Estamos no DARPA Quantum Benchmark Initiative e guiando uma comunidade global para entregar resultados reais.”

A estratégia é inclusiva, garante. “Temos conversas ativas com Microsoft, IBM e outras empresas. Não existe um único cubit vencedor. Cada tecnologia tem prós e contras. O futuro será modular e colaborativo”, comentou.

Enquanto o mundo ainda espera por uma aplicação certeira fora da física quântica pura, a HPE quer garantir que, quando ela chegar, as empresas estarão prontas para aproveitá-la. “Hoje, somos céticos saudáveis. Mas a maré está virando. A diferença é que, desta vez, temos um plano”, encerrou Bresniker.

*A jornalista viajou a convite da HPE



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